Sem palavras...


Passei boa parte do dia tentando escrever sobre a tragédia de hoje (06/03/11), em Realengo - RJ. 

Ensaiei, deletei, nada era tão pesado como o que estava sentindo. Doze crianças, doze famílias e um homem atormentado por fantasmas pessoais que resolve levar sua vida a cabo, mas não quer ir sozinho.

Difícil entender o que aconteceu. Impossível compreender a tamanha brutalidade e o tamanho do vazio carregado pelo louco.

Crianças que acordaram sonolentas, tomaram o café-da-manhã, na correria do dia-a-dia e saíram de suas casas em direção à escola, sem jamais imaginar o que aconteceria em poucas horas.

Estudei em escola pública, sei como é vestir o uniforme, entrar na fila, cantar o Hino Nacional e ver o astear da bandeira, antes de subir e iniciar os estudos.

Creio que, na escola de hoje, não se canta mais o hino, aliás, quase ninguém sabe a letra e o respeito que tínhamos antigamente, tem perdido o valor, ano após ano.

Tenho um filho de 13 anos e não consigo imaginar o que os pais destas crianças devem estar sentindo agora.
O que fazer? Instalar detectores de metais na entrada dos colégios? Não deixar que os filhos voltem para a escola? Este local sempre foi sinônimo de segurança e, de uns tempos pra cá, tornou-se lugar de preocupação. Drogas, álcool, sexo e cigarros já preocupavam os pais há tempos, mas, assassinato em massa?! Chacina? Não...isso nunca passou por nossas cabeças.

Víamos acontecimentos semelhantes em outros países, mas, brasileiro é um povo pacato, não anda armado, apesar dos pesares, é feliz... no Brasil de hoje, perplexo, boquiaberto, não há muito o que dizer, a não ser: que Deus nos ajude a sobreviver às calamidades, às dores, às tragédias. Sinto o sobressalto do mesmo pesadelo que vivi ao acompanhar o seqüestro seguido de assassinato da jovem Eloá, em São Paulo; a mesma angústia de ter vivido, ao vivo, a morte da professora, em um ônibus, na zona sul; cenas que chegaram ao cinema.

Onde estamos? O que é tudo isso? A que ponto chegamos?

Meu coração está ligado aos corações dos pais, professores, colegas e parentes dos alunos mortos. Meu filho tem 13 anos... que país ficará para ele? Pela primeira vez, dou a mão à presidente Dilma Roussef e sinto a mesma voz embargada na garganta.

Os rostos desesperados dos pais não saem da minha mente porque, pai não põe filho no mundo para enterrar; sempre esperamos ir primeiro, na ordem natural da vida e, já que não sabemos mais que vida é esta, peçamos a Deus misericórdia pelo nosso país, onde, qualquer pessoa, ainda pode comprar armas, mesmo que o governo as proíba.

Culpa? Não vejo culpados, só vítimas. O rapaz enlouquecido não foi percebido por ninguém, era calado, não tinha mais família e, pelo jeito, transformou-se em um morto vivo. As crianças tentavam crescer, estudavam. Onde há a ruptura? Analisemos nossas próprias vidas porque, certamente, em algum lugar dentro de nós, existe uma resposta.

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