O que dizer? Ao mesmo tempo, não posso calar...


Um lugar aprazível, gente acolhedora, clima gostoso, friozinho à noite...lugar tão bom pra morar.


É impressionante imaginar o mundo desabando sobre nossas cabeças, mas, foi exatamente isto que os moradores de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis e cidades vizinhas viveram. Num estalar de dedos, a serra partiu-se em fendas, encobrindo e engolindo pessoas com uma fome voraz, sem aviso, sem tempo, sem trégua.


Sinto-me ignóbil, vontade de saber voar e dar a mão àquelas pessoas que não encontram sorriso pra dar, mas precisam tanto receber. Vontade de abraçar uma a uma e tentar dizer que não estão sozinhas.


Hoje vi crianças em um hospital; algumas em choque, outras com um ponto de interrogação tão claro na frente do rosto..."o que aconteceu?"..."onde está minha mãe?"... Vi a diretora de um hospital dar entrevista à uma TV, em meio à lágrimas e, quando o médico se mostra humano, é a face da tragédia, mais forte do que ele mesmo, que o empurra contra o jaleco branco e o faz sentir-se, mesmo tão precioso, inútil!


Não há como devolver a mãe tirada de uma criança; não há como dizer isto à ela!!!!!


Somos tão egoístas, às vezes; reclamamos do muito que temos, como se nada valesse e quando olhamos a imagem do nada, muitos de nós vira o rosto, muda de canal ou expressa: "Estou cansado de ver tragédia". 


É verdade, tragédia cansa, quando a dor é do outro. Tenho visto pessoas incansáveis, doando-se para dar o possível a quem nem sabe o que pedir. Tenho visto atitudes sublimes de dividir o pão, mesmo que sobre pouco; mas, também tenho visto pessoas que pouco se importam porque o que é seu está bem guardado.


O que vejo nesta tragédia de verão é algo aterrador, literalmente. O barro, a lama, a fúria das águas não respeitou os limites muitas vezes impostos pela sociedade e a "avalanche" igualou a todos: pobres, ricos, brancos, negros, cristãos, católicos... 


Tenho verdadeiro asco de pessoas que se julgam melhores do que as outras porque estudaram mais, têm prodigiosa memória, descendem de nobres (sangues azuis), detém algum tipo de poder que o faz sentir maior: "sou melhor porque tenho um carro e eles andam de ônibus..."


Nasci no subúrbio do Rio de Janeiro, numa maternidade pública de Realengo. Cresci no bairro de Anchieta, zona norte, pertinho da baixada fluminense e sei o que é preconceito, mesmo sendo branca. A falta de amor é algo que a alma identifica; falta de amor dói, maltrata e destrói.


Espero que haja amor a ser dado para estas pessoas, não só suprimentos; amor! Sim, precisam de alimento, roupas, mas, sem amor, nada disso adianta porque a dor é grande demais. O pior vem nos meses seguintes, quando as coisas parecem voltar ao normal, a cidade começa a ser reconstruída, mas, as vidas perdidas não retornam porque ninguém volta pra este mundo.


Acho que nesta hora, todos aqueles que sabem dar um abraço, deveriam subir as serras porque há coisas que não têm preço. Um sorriso, uma história, um colo... vão precisar muito de nós. Eu quero estar lá; posso levar sorriso às crianças, conforto aos que estão de luto, abraço aos idosos, repartir um pouco a minha própria vida. 


Não há culpados, não há ninguém a ser incriminado; muito menos Deus porque Ele nos ama de forma tremenda. Há um tempo pela frente, vidas a serem reconstruídas e muito de nós pode dar mais do que pensa possuir.

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